CAPRICÓRNIO: como o complexo paterno e o mito da crucificação participam do signo
O signo de Capricórnio carrega um pouco da ambivalência de Sagitário, como mencionei no artigo anterior.
Capricórnio é muito orientado socialmente, sentindo-se completamente à vontade num contexto definido pelo meio social:
Ele permite que o mundo externo defina os critérios sobre o que é real, importante ou aceitável, e o que não é.
Principais tópicos desse artigo
Compreendendo Capricórnio
Para realmente compreender Capricórnio, é necessário compreender o simbolismo do complexo paterno, do qual Capricórnio é a manifestação mais exemplar.
Por isso, eu exploro mais a fundo a mitologia do signo nesse artigo.
Capricórnio evita as abstrações que não podem ser reduzidas para a experiência tangível.
Ele está preocupado com a ideia objetiva da verdade e que é ao mesmo tempo prática.
Eficiência é algo que Capricórnio deseja acima de tudo.
Enquanto Câncer (o signo oposto a Capricórnio) é a manifestação do sistema de apoio familiar à criança, Capricórnio é o signo que manifesta a energia que empurra a criança para o mundo.
A importância dos mitos
Mitos não são apenas imagens de padrões de vida.
Eles também são modos de percepção que filtram a maneira como a pessoa enxerga e vive a sua vida.
Mitos se apresentam internamente e na vida externa. Eles se apresentam como qualidades da alma e acontecimentos externos.
Crucificação
Alguns temas míticos podem ser ligados a Capricórnio.
Um deles é a parte do mito cristão chamado de Crucificação.
Todo o tema da descida do espírito à matéria, sua prisão e sofrimento está relacionado à Capricórnio.
O desespero e o grito de Cristo na cruz : “Pai, por que me abandonaste?” acho que são vislumbres importantes da psicologia de Capricórnio.
Os temas míticos sobre o aprisionamento, servidão voluntária, aceitação da carga da vida terrena, estão ligados a Capricórnio.
Existe a disposição de passar por essas coisas porque há um senso de dever, uma necessidade de servir a algo.
O tema da servidão, da dura prisão do corpo, da matéria, da responsabilidade material, parece aceitável para Capricórnio apenas na medida em que haja uma percepção do seu propósito.
Mas parece que sempre existe um momento em que o sentido do propósito é perdido. E todo o drama da Crucificação não tem sentido sem o desespero.
O Funeral
O funeral ou sepultamento é outro motivo relacionado com Capricórnio.
Essa imagem é cristã e também egípcia. O deus Osíris é desmembrado por seu irmão malvado. Ísis, sua irmã e esposa, junta os pedaços e os mumifica.
No final, ele é ressuscitado.
Esse tema precede o cristianismo em muitos milênios.
A experiência do sepultamento e da espera silenciosa, ou debaixo de uma pedra ou enrolado nas faixas da múmia, é especialmente capricorniano.
Capricórnio começa com o solstício de inverno no hemisfério Norte (onde a astrologia surgiu), quando o Sol está mais fraco e o dia é mais curto.
Muitas religiões primitivas reservaram essa época do ano para celebrar a morte do ano velho e a semente do ano novo.
Assim, Capricórnio é um período de morte e gestação anterior ao renascimento.
Muitos deuses e heróis solares nasceram no solstício de inverno.
No meio dessa depressão e escuridão, uma semente começa a brotar.
No momento de desespero na cruz, a humanidade é redimida, porque naquele momento Deus se torna verdadeiramente humano e sofre.
O simbolismo alquímico
No simbolismo alquímico, referem-se à matéria básica como Saturno (regente de Capricórnio), que precisa ser cozida no alambique até que se torne preta e comece a cheirar mal.
Esse é o estágio de desespero e da depressão, que é o prelúdio da liberação do espírito, da formação da pedra filosofal.
Há um impulso religioso muito profundo em Capricórnio, embora geralmente esse signo seja muito teimoso e pragmático para admitir isso em termos místicos.
E assim, Capricórnio fica mais à vontade com o dever.
O confronto entre pai e filho
O titã Cronos (Saturno – o regente de Capricórnio) castrou o pai Urano com uma foice, oferecida por sua mãe Gaia.
A foice segura por Saturno, contrapartida romana de Cronos, tinha a forma do bico de um corvo (a palavra Kronos significa “tempo” e corvo”).
Essa foice ritual dava o sinal para que os mortos fertilizassem a terra e renovassem as colheitas.
Cronos era adorado em Atenas como Sabázio, o deus da cevada, e todo ano era cortado no campo de plantio e lamentado, como Osíris.
Ele é tanto o velho como o jovem rei, pois o mesmo que faz ao pai é feito a ele. Apesar da sua paranoia, ele é destronado por Júpiter.
Essa dualidade e unidade de pai e filho, senex e puer, é um dos motivos míticos dominantes de Capricórnio.
Seja o senex o pai pessoal, um conjunto rígido de normas éticas do superego, ou de instituições e autoridades do mundo exterior, o destino de Capricórnio parece conduzir a esse ciclo, para que possa experimentar a dualidade entre o senex e o puer dentro de si.
A iniciação de Capricórnio
A iniciação do filho pelo pai é uma experiência interior que, aparentemente como se fosse um destino, muitas vezes é negada a Capricórnio no relacionamento parental real – portanto, é preciso que ele a busque dentro de si num nível mais profundo.
O rito de iniciação, com a revelação do pai primeiro como um ogro perseguidor, a exigência das regras e condições do mundo, e a visão final de um Pai misericordioso e de uma alma imortal, parece ser o caminho saturnino arquetípico.
Mas a iniciação de Capricórnio se conquista pelo amadurecimento.
Esse ritual é oferecido, no nível mais profundo, a qualquer pessoa que passe um trânsito ou progressão importante envolvendo Saturno.
A aceitação da responsabilidade e das limitações terrenas é o processo de passagem de filho para pai, de menino para homem, de espírito soterrado a uma ativa contribuição na encarnação.
Maturidade, Responsabilidade, Compromisso e Seriedade
Imagine-se no início do inverno no hemisfério norte há muitos séculos atrás.
Dentro desse contexto, há que se lidar com os recursos disponíveis com muita responsabilidade para conduzir a comunidade.
Há que se desenvolver a maturidade necessária para lidar com os desafios e privações naturais desse contexto.
Essa visão ajuda a entender o signo com a sua carga simbólica.
A figura paterna
No panteão do zodíaco, Capricórnio representa uma figura paterna. É um pai severo, exigente.
As representações paternas subjacentes também são presentes nessa representação: a ordem social, a civilidade, a coerência, a moralidade.
No contexto de um rigor invernal, esses elementos representavam a própria sobrevivência do grupo.
Imagine uma revolta adolescente nesse contexto?! Não há espaço para isso.
Por isso, a liderança capricorniana é sobre colocar ordem em detrimento do caos.
Capricórnio é ligado à autoridade e como todo arquétipo, tem o seu lado luminoso e seu lado sombrio, que no caso da autoridade está relacionado aos mandos e desmandos.
Essa figura paterna representa introspecção e o renascimento espiritual.
E também está ligada ao superego na psicanálise: o conjunto de valores morais e o domínio do eu sobre as nossas facetas primitivas.
Ele é o terceiro signo do elemento Terra e é ligado à materialidade, aos recursos, territorialidade, finanças, orçamentos.
Processos árduos, limitações e frustrações
O mais lento entre os planetas visíveis, o regente de Capricórnio é Saturno.
Saturno simboliza os processos árduos, as limitações, as frustrações que temos que aprender a lidar, os processos que só vão se revelar com o tempo, mantendo a calma e seguindo métodos.
Isso diz muito do o terceiro signo do elemento terra, que é humilde e ambicioso ao mesmo tempo.
Capricórnio vem de Sagitário e segue querendo saber o que é acertado e aplicável a cada situação.
O mestre que ensina através das limitações
As lições que Saturno ensina são lições duras, ensinadas através de limitações e frustrações.
Onde quer que ele se encontre no mapa natal ou nos trânsitos no decorrer das nossas vidas, são as lições que, se absorvemos e aprendemos, nos tornamos psicologicamente mais maduros.
Um dia desses me veio uma frase que foi: envelhecer é de graça, amadurecer é escolha.
Pense nisso: não é todo mundo que envelhece que se torna necessariamente mais sábio.
As lições de Saturno podem ser duras – e são, porque ele cobra mesmo! – mas do outro lado do aprendizado, podemos ver uma espécie de humor ácido nas lições do mestre Saturno.
Metódico
A vocação para o método vem do signo anterior: Sagitário.
Capricórnio é tão metódico quanto o centauro arqueiro, só que segue à risca os métodos propostos, porque ele não quer ficar na intenção: ele quer realizar de fato. É a ambição capricorniana.
Tem medo de passar da medida, então cada passo dado é calculado e raciocinado.
É um signo contido e busca construir estruturas. Muitas vezes se mostra rígido, com foco exclusivo no trabalho e obstinado para conquistar o que se propõe.
A porção espiritual do arquétipo e a subida da montanha
O glifo de capricórnio são os chifres do carneiro que se transformam no rabo de um peixe.
O peixe na linguagem simbólica da astrologia é ligado à espiritualidade.
A vocação espiritual do signo é que através de algo físico se alcança um grande desenvolvimento espiritual.
A imagem que representa o signo é a cabra montesa.
Resiliência, persistência, precisão são necessárias para que ela suba a montanha (ou qualquer desafio de respeito)
Em muitas tradições, subir a montanha é um processo espiritual.
Subimos a montanha para termos uma visão mais clara, menos identificada com o ego e mais conectada com o espírito.
E da mesma forma, o inverno que eu menciono no início do texto, também pode ser visto como o inverno da alma.
O inverno da alma são os períodos da vida onde precisamos nos recolher para rever algumas coisas e amadurecer.
Cautela, Planejamento, Constância
Escolhe o crescimento lento, planejado e constante, investindo no que possa ser levado a cabo e rejeita as atitudes apressadas
Quando a gente é jovem, a gente que experimentar de tudo e naturalmente começa muitas coisas e larga pra lá: essa é a imagem do bode novo, representado por Áries.
Capricórnio é o bode velho. Já viu e viveu muita coisa e não corre o risco de dar um passo em falso em rolar despenhadeiro abaixo.
Saturno remete aos longos processos de evolução e representa a sabedoria do velho.
Capricórnio é factual e atento aos fatos. Reduz a sua área de atuação e se torna preciso no que faz.
Saturno é um professor duro, ele impõe limites porque sabe que a excelência requer dedicação.
Persistência e tenacidade versus a famosa teimosia capricorniana
O signo busca a sobriedade, e tal como o símbolo da cabra montesa subindo os rochedos ele precisa ser sóbrio mesmo!
Só que o seu estilo às vezes fica empacado no taciturno: ele quer ser tão objetivo que se esquece que projeta a sua realidade interna subjetiva aos fatos. E frequentemente se torna pessimista nos seus pontos de vista.
A percepção crua da realidade que o signo busca pode torna-lo amargo e pessimista por avaliar sempre as coisas como causa e efeito, tornando-se fatalista e descrente.
A “cabeça dura” são os pontos de vista fixos: “é assim que as coisas são e não há outras possibilidades”. E não se abre para ver outras possibilidades melhores, que podem estar presentes e disponíveis bem ao lado.
O signo adiante é Aquário, que é orientado para o futuro.
Capricórnio entende que as demandas do presente já são trabalho o suficiente para ele.
Capricórnio sabe no seu íntimo que planejar é uma coisa e realizar é outra.
O desafio e a nutrição
O desafio para o Capricorniano é encontrar o bom senso pessoal que o livre da sua rigidez auto imposta.
O seu distanciamento crítico pretende criar condições para uma avaliação imparcial da realidade, mas precisa compreender que existe um aprendizado contínuo em Câncer – o seu signo oposto.
Se Capricórnio representa sociedade e ordem social, Câncer representa família.
É muito comum as pessoas que não tiveram o reconhecimento e a nutrição afetiva enquanto crianças, buscarem o reconhecimento na sociedade, no trabalho, no status.
Dentro do estilo árido do bode velho também vive a delicadeza canceriana. Aqueles que são afortunados para serem amigos do Capricórnio, serão considerados amigos de verdade.
Capricórnio carrega o signo de Câncer em si. E se escolhe ir além da sua dureza e abre-se para a sensibilidade, para a intimidade e amor, os seus potenciais se tornam mais luminosos e ele pode percorrer a “subida da montanha” com mais leveza.
